segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Até mais, vida!


Existe algo que entristece qualquer pessoa ou animal, algo que não se pode negar, muito menos burlar, coisa a qual é dolorida, motivo de pânico para uns e aceito com alguma dor por outros. Mas o sentimento de perda é sempre igual.

A diferença entre morte e vida é uma linha tênue, facilmente corrompivel e nunca esperada, por mais que certa.

Hoje mais uma perda. Em meio à felicidade dum trabalho bem sucedido, a notícia de que nunca mais se verá quem se foi. Doda, também chamada por Branquela, e por mim, Dodo, Dodelo, Dominique nique nique partiu, ainda nem sabemos por que, após 8 anos conosco.

Além do sentimento doído da perda, o meu piora pelo sentimento de culpa. Após uma separação dolorida com o meu ex, dividimos nossas "filhas" por incompatibilidade de gêneros (delas) e sempre tentei estar o mais presente possível. Mas não fio assim nos últimos tempos.

Há algum tempo não a via, correria do dia a dia, incompatibilidade de horário, distância...Essa culpa me assola, e sempre vai assolar em todas as perdas. Não só as minhas, as suas também serão assim. A pergunta é: "Por que não fui vê-la naquele dia que dormi até mais tarde?".

Qualquer uma delas seria/será uma dor grande quando se forem, por que vão. Mas acredito que a Doda tem um 'Q' maior na dor. Ela me escolheu quando ainda era uma bola de pêlo e eu a salvei da morte ainda bebê.

Ela dormia todas as noites com a cabeça no meu pescoço. E só saia pra rua comigo. Era tão metódica quanto eu. Comia sempre nos mesmos horários, fazia cocô e xixi no mesmo lugar todos os dias, mesmo que na rua ela tinha o seu lugar preferido.

Tinha momentos de alegria extrema e de profunda tristeza. E tenho medo dela ter morrido dessa tristeza. Era o meu eu canino.

Odiava música alta e sempre me acompanhava nas danças no meio da cozinha. Alheia ao que acontecia no mundo, só respondia aos nossos chamados quando lhe convinha.

A orelhinha caida e a outra em pé era o chare dessa bola de pêlo branco que não verei mais. Acho que esse momento da perda é o único momento na vida em que desejo profundamente acreditar em Deus pra poder me convencer de que ela deixou o papai pra ir morar com o papai do céu.

Termino aqui, com o rosto molhado de lágrimas, tentando reprimir essa dor e dizendo: "Perdoa o papai, Dodo...Papai te ama e vai te amar sempre."

A dor de amar tanto animais como a Doda é essa partida tão rápida.

TE AMO!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Todas as coisas


O desespero que te leva dia após dia,
Noite após noite
Cama após cama é comovente
Mas não tenhas dó de si

Procurar em cada boca, cada cheiro, cada olhar
Nuance dos pelos
Formato dos narizes
Em cada centímetro de corpo

E ainda assim seguirá
Olho pele boca
Dente mão barriga
Cheiro pelo cabelo
Ouvido nuca dedo
Braço pau pé bunda
Sorriso coração lágrima

Vazio

Copo

Cinzeiro

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dias


Incompreensivelmente estou aqui
Perdido em mim mesmo
Achando-me em outros olhos que nego
Aiai mediocridade, esta que me assola
Um piscar de olhos pode ser suficiente para
Perceber a irrelevância das coisas
E no outro piscar, torna-se tudo
Inegavelmente relevante.

Saiam de mim
Deixem-me aqui
Não, não é em tom depressivo, é um tom egoísta mesmo
Cansam-me com sua estupidez
Falsos moralismos e ideologias
E há momentos em que a amoralidade e o vácuo
que um cérebro sem ideologia conserva
Me incomodam de forma surpreendente.

Não pretendo ser legal, apesar de parecer
Não pretendo amar, apesar de sofrer
Quero mais é te enganar e me enganar
Afinal, o mundo é uma ilusão
Iludamo-nos

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Me diga

Havia começado na mente um belo texto para acompanhar a canção. Mas, primeiro precisava chegar em um computador.
Eis que cheguei no trabalho e infelizmente o espírito da mediocridade que paira sobre este lugar me fez esquecer das belas palavras bem ligadas entre si. Portanto vai só a música:

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Frases da noite passada II


"Deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa"

Belíssima letra de Chico, solta quase impensadamente num momento de pura descontração e felicidade.
Talvez existisse seriedade nas palavras ditas, mas quem se importa?
O que aprendi foi:

Não pode se passar por essa vida sem plantar uma árvore, quebrar um dedo, andar de bicicleta e pedir alguém em casamento.

E se for pedir alguém em casamento, que seja sem esperanças e sem amor. Assim o 'não' será belo e bom de relembrar, afinal, quantas vezes você levou um fora com uma letra de Chico?

E a vida continua bela e perfeita, a gente é que a desmerece.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Contentamento


E no fim de tudo é ele quem me faz sorrir
Independente dos meios que utiliza
Por mais que procure em outras bocas suas palavras
Outros rostos, seu sorriso
Outras mãos, os seus gestos

Uma viagem nossa, um destino imprevisto
Vontade de ficar no meio do escuro
No mato sem rumo
Mesmo assim me fará sorrir

Nessa nossa louca fuga de nós
Nesse sumiço que dói no peito
Escureço para amanhecer
Clareio para anoitecer

Conquistaremos as capitanias
O mato nunca antes tocado
Terras imaginadas
E mesmo assim não teremos um ao outro
E ainda assim sempre me fará sorrir

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O sol frio


Gosto mais do outono
Da sensação do vento batendo no peito e arrepiando as costas
O barulho das folhas secas no chão.
Perco um bom tempo pisando em cada uma, quando vejo, estou atrasado
Gosto mais do outono
Da sensação do ar frio ressecando as narinas quando entra
Da fumaça que sai da minha boca

Dizem pra eu gostar do verão
Mas se todos gostam do verão, prefiro
O outono, acolhedor
Das sopas, do chocolate quente
Dos cobertores esparramados pela cama
Gosto dos casacos, dos rostos expressando o frio
Gosto do tiritar

Sentir minhas mãos rigidas
Minha pele rasgando
Do sol frio que bate durante a tarde

Só no outono sinto meu corpo e me toco com gosto