domingo, 8 de fevereiro de 2009

O Exorcismo


Passar por ciclos é totalmente natural a todo ser humano, passamos por eles a todos os momentos, mas o ciclo do nono ano é diferente. Este é mais intenso, e quando digo intenso, leia-se com a devida tensão da palavra.

Entrar em um ciclo novo é também queimar demônios, e ter ao seu redor muitos deles, e aprender a enfrentá-los e a afastá-los. Chega-se a ficar perdido diante tantos problemas que essa época traz.

Mas chega o momento que é o master do apocalipse. Tudo acontece. E comigo foi de conhecido sendo assassinado, a antigos amigos em cadeira de rodas, outros querendo matar, e há aqueles que querem morrer.

O passado cospe na tua cara, querendo te cegar para o novo.

Então grito: Tomei meus três lexotans! Quando acabar o apocalipe me acordem, por favor!

Mudança de ciclo é simplesmente desgastante, não sei como isso não entra na cultura popular como a menstruação das varoas. E é impossível não percebê-la. Você fica com a cabeça girando em torno do sol, mas sem iluminação. Quer abraçar o mundo, mas ao mesmo tempo não quer ninguém perto de si. Apenas ficar num quartinho escuro, húmido, ali, sozinho.

Quase sente dores nos mamilos, cólicas pré-menstruais, e uma terrível dor de cabeça, mas ela perdura por alguns meses. Ela é tão forte que dá vontade de sair correndo nu, mundo a fora gritando, gritando qualquer coisa, desde palavras de baixo calão aos mais belos poemas de Casimiro de Abreu e receitas de bolo.

Vomitar toda a sua verdade e a verdade que sabe do mundo na cara de toda essa sociedade cheia de hipocrisia. E depois que gritar tudo isso, mas tudo mesmo, até contar que já surpreendeu sua mãe trepando com detalhes minuciosos, como posição e tipo de gemido. Aquele olhar voluptuoso que ela tinha, que só você sabe. Sim. Ai sim, quando tudo acabou...hahaha...não, não acabou, ai continua a gritar, mas já que não existe mais o que falar. Então proferir sons guturais, qualquer som, gemido, urro, até cair, e se contorcer em espasmos no chão.

No chão, nu, limpo, dignificado, com o corpo queimado e lavado em suor e tesão. Limpo, sem demônios, sem medos, sem mentiras, sem anseios, muito menos delirios. Todos eles foram covardes demais pra acompanharem durante todo este trajeto. Ai sim, poder levantar, dar de ombros e voltar pra casa com um sorrisinho malicioso e dar bom dia ao porteiro, que está ali, parado, estático, bestificado, abismado com aquele ser que adentra o local. De olhos vidrados, boqueaberto. Entrar no elevador e encontrar a senhora do 31 a olhar de cima a baixo, morta de inveja.

Só então, abrir a porta colocar uma roupa e seguir rumo aos próximos nove anos que se seguirão. e durante estes nove anos desejar com um desejo maior que o do sexo por este dia novamente. O dia do exorcismo.

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